/ Cooperativismo tem princípios alinhados com valores exigidos pela sociedade
A sociedade vem mudando consideravelmente o modo de pensar e operar nas últimas décadas. Hoje, é fundamental estar conectado a outras pessoas, ampliar o networking e fazer parte de um sistema que funcione em conjunto. Nesse processo, uma forma de empreender está conquistando os olhares de uma grande parcela da população: o cooperativismo. Alinhado aos desafios do momento atual, o modelo de negócio se posiciona em uma busca constante em relacionar pessoas e incentivar a evolução conjunta.
Em um ano atípico como o de 2020, milhares de empresas fecharam as portas por não conseguirem se manter mediante a crise instaurada pela pandemia do Covid-19. Nesse período, o modelo cooperativista tem mostrado força, mantendo empregos, aumentando resultados e se firmando como uma opção viável para promover o desenvolvimento econômico e social.
Com um papel fundamental na economia mundial, o cooperativismo está presente em 150 países, reunindo 2,6 milhões de cooperativas e impactando 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo. Para se ter uma ideia, o retorno gerado pelas cooperativas brasileiras à sociedade em 2018 chegou a R$ 16 bilhões – só para os cofres públicos a arrecadação foi de R$ 7 bilhões, em impostos e tributos. Entre 2011 e 2018, o número de pessoas que se uniram a esse tipo de iniciativa cresceu 62%, causando um incremente de 43% em empregos gerados, de acordo com dados do anuário do cooperativismo 2019.
“Mais que um modelo de negócios, o cooperativismo é uma filosofia que busca transformar o mundo com equilíbrio e oportunidades para todos. Um caminho em que é possível unificar desenvolvimento econômico e social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo”. Explica a gerente geral da organização das cooperativas Brasileiras (OCB), Tânia Zanella
Segundo Tânia, cidades e municípios que contam com a presença de cooperativas apresentam Índice de Desenvolvimento Econômico (IDH) superiores a de outras localidades sem a presença desse modelo de empreender. “Isso ocorre porque os resultados gerados pelos empreendimentos cooperativos ficam na região, o que faz girar a economia local, trazendo mais renda e qualidade de vida para as pessoas”, ressalta.
Modelo de negócio do futuro
O cooperativismo se difere de outros modelos por uma característica central: o foco nas pessoas. Além disso, movimenta a economia e promove desenvolvimento local, sem deixar de lado valores e anseios do século 21. Ao mesmo tempo em que demanda uma gestão profissionalizada e com visão de mercado, capaz de gerar competitividade, possui um caráter transformador e de inclusão.
Para professor e escritor José Luiz Tejon, trata-se de um modelo econômico sustentável que equilibra a missão do estado com o empreendedorismo da iniciativa privada. “O cooperativismo permite capilarizar a dignidade para bilhões de seres humanos. Onde há uma cooperativa bem liderada, há riqueza. Por outro lado, em locais onde há pobreza, não enxergamos a existência de cooperativas”, pontua. “Acredito que será o melhor modelo de negócio do século 21 para reinicializar a economia com o aporte de recursos no empreendedorismo. Se deixarmos esse aporte sem a filosofia cooperativista, poucos serão bem sucedidos”, pondera.
Exemplo disso é a Coopmetro, rede de cooperativas de logística e transporte com sede em Belo Horizonte, que se adaptou durante o período de crise e colocou o foco no delivery de compras feitas pela internet. Atentos à alta do e-commerce e com as restrições de locomoção impostas à população, eles aumentaram a frota de veículos e firmaram novas parcerias com outros grupos que estavam ociosos. Motoristas de táxis, de cooperativas e de transporte escolar passaram a fazer entregas para grandes empresas, como o Mercado Livre, por meio da Coopmetro, alcançando a marca de 1 milhão de pacotes entregues durante o período.
Além da alta no faturamento, que no início da pandemia era de R$ 14 milhões por mês e hoje já soma R$ 18,5 milhões por mês, a empresa viu o número de cooperados aumentar em 30% de março a outubro deste ano. Para o diretor da Coopmetro, Evaldo Moreira Matos, o sucesso das ações durante a crise é resultado de uma preparação que começou há dois anos, após a participação da organização em um programa de governança. “Passamos por um treinamento e vimos que o e-commerce era a grande tendência. A partir daí revisamos nossas diretrizes e passamos a sondar novas oportunidades”, conta.
Com o aumento da base, a Coopmetro tem planos para expandir o marketing place e atender mais gigantes de vendas on-line, como a Amazon e as Americanas. “Esse crescimento em meio às adversidades é motivo de orgulho para todos nós, pois conseguimos oferecer aos nossos transportadores uma condição de expansão e aumento nos negócios”, ressalta Evaldo.
Para o presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito, Kedson Macedo, o cooperativismo está inserido na filosofia de um mundo moderno, atuante, em que as pessoas atuam de forma integrada e, especialmente, se preocupam com o destino e o desenvolvimento sustentável do planeta. Ele ressalta que os números expressivos de cooperativismo se devem muito aos princípios e valores que o movimento congrega. “Temos buscado trabalhar dentro da era da economia colaborativa, onde o trabalho realizado a várias mãos e a inovação partilhada por muitas pessoas predominam sobre o esforço individual”, enfatiza.
Os 7 princípios do cooperativismo
No Brasil, existem aproximadamente 7 mil cooperativas com culturas, missões e propósitos bastante variados entre si. Entretanto, todas são pautadas pelos mesmos princípios. Confira quais são eles:
• Adesão voluntária e livre
Todas as pessoas são aptas a utilizar os serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades sem discriminação de gênero, social, racial, política ou religiosa.
• Gestão democrática pelos associados
As organizações são controladas por todos os membros, que participam na formulação de políticas e na tomada de decisões. Os representantes são eleitos pelo grupo.
• Participação econômica dos associados
Os membros contribuem equitativamente para o capital da organização. Parte do montante é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os excedentes podem ser rateados entre os associados ou utilizados na própria cooperativa. Tudo sempre decidido democraticamente.
• Autonomia e independência
Podem firmar acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, desde que não afetem o controle democrático dos membros da cooperativa.
• Educação, formação e informação
Têm como princípio promover a educação e a formação dos membros em todos os níveis, assim como nas comunidades em que estão inseridas.
• Intercooperação
Cooperativismo é trabalhar em conjunto. A intercooperação pode ocorrer em diversos níveis, seja por meio de estruturas locais, regionais, nacionais ou internacionais.
• Compromisso com a comunidade
Trabalham pelo desenvolvimento sustentável das comunidades, por meio de políticas aprovadas pelos membros, assumindo um papel de responsabilidade social no meio em que estão inseridas.
Diferença entre associação e cooperativismo
Muitas pessoas confundem os conceitos entre associação e cooperativismo. A principal diferença entre uma e outra está em suas naturezas. As associações têm por finalidade a promoção de assistência social, educacional, cultural, representação política, defesa de interesses de classe, filantrópicas. Já as cooperativas, têm o objetivo econômico de comercializar a produção realizada por seus membros junto ao mercado, na expectativa de retirar dela o próprio sustento.
Nas cooperativas os integrantes são os donos do patrimônio e os beneficiários de todo ganhos alcançados. Já em uma associação, os associados não são donos da entidade e todos os ganhos devem ser destinados à sociedade, e não aos associados.
O professor Tejon acredita que o modelo tende a crescer nos próximos 10 anos. “O cooperativismo dobrará de tamanho no Brasil até 2030. Não tenho a menor dúvida. E se isso não acontecer, iremos sofrer. O PIB brasileiro deve cair este ano para apenas US$ 1,4 trilhão. Sairemos da lista das 10 maiores economias do planeta. Precisamos obter minimamente US$ 4 ou 5 trilhões até 2030. Isso só será possível com o engajamento dos brasileiros no trabalho criativo e de valor agregado”, explica.
Fonte: Metrópoles.com